Um Só canudinho? Acontece que somos quase 7,7 bilhões de pessoas no planeta! Nos lembra a arquiteta Silvana Laynes de Castro nesse texto ótimo.
As proibições de canudinhos plásticos, sozinhas, não mudam muita coisa. Mas, talvez, seja um começo. Menos de 9% de todo o plástico que usamos diariamente é reciclado. Em vez disso, a maioria acaba em aterros sanitários ou nos oceanos. Esse problema não será resolvido ao banir uso do canudo plástico, mas os ambientalistas afirmam que abandonar uma única peça de plástico pode ser o primeiro passo para uma fundamental mudança de comportamento.
A Euromonitor International relata que, em 2015, o consumo de plástico no mundo totalizou 300 milhões de toneladas. Isso significa que, para cada um dos 7,6 bilhões de humanos, cerca de 40kg de plástico é produzido/ano. E a maioria se transforma em lixo após um único uso. Se você acha que está agindo corretamente jogando seus plásticos usados na reciclagem, repense, pois mais de 79% de todos os resíduos plásticos acabam em aterros sanitários, ou ficam presos no mundo natural, independentemente da caixa de classificação de lixo em que você os coloca. Outros 12% são queimados em incineradores, emitindo gases tóxicos (dioxina) e adicionando partículas à atmosfera. Apenas os 9% restantes são realmente reciclados, de acordo com um relatório publicado em 2017, na Science Advances.
Cada pedaço de plástico produzido no mundo começou como produto de um pedaço de carvão, uma mancha de óleo ou gás natural. Havia polímeros naturalmente derivados muito antes disso, incluindo materiais como chifre animal e borracha, mas o tipo de plástico produzido hoje só apareceu a partir de 1907, com a invenção do primeiro plástico sintético feito de combustíveis fósseis: o Baquelite, um polifenol (fenol com o formaldeído). Devido à forma como estes novos polímeros fabricados são aquecidos e curados, muitos plásticos nunca poderão ser, verdadeiramente, reciclados. Essa qualidade de robustez os transformou num substituto maravilhoso e quase inquebrável para produtos mais antigos e frágeis, como porcelana ou vidro. Mas, tal atributo significa, também, que o plástico pode ficar num aterro sanitário, ou numa rua, por milhares de anos sem se decompor...
Os plásticos de que são feitos os canudinhos (geralmente, polipropileno) podem ser recicláveis, pelo menos na teoria, mas, a maioria não é! Eles são despejados em aterros sanitários ou enviados em grandes barcos para a China, um comércio que está em declínio (empresas norte-americanas de reciclagem costumavam ganhar dinheiro exportando dejetos plásticos, mas a China suspendeu as importações devido às preocupações com contaminação). Por serem leves e de pequenas dimensões, alguns canudos flutuam para o mar, tornando-se apenas mais uma parte do gigantesco iceberg de lixo de 79 mil toneladas que boia no chamado Great Pacific Garbage Patch. Entre o Havaí e a Califórnia existe um "poço úmido" de lixo e depósitos ilegais presos nas correntes oceânicas onde mais de 99,9% é de plástico, e não são apenas de canudos: foram identificados recipientes variados, garrafas, tampas, tampas de garrafas, fitas de embalagem, cordas e redes de pesca (Business Insider).
Então, por que implicar só com os canudinhos plásticos? O movimento anti-canudo de plástico pode ter sido influenciado pela divulgação de um vídeo que começou em 2015 e que já rodou o mundo. A estudante Christine Figgener, marcava tartarugas marinhas, como parte de sua pesquisa na Costa Rica, quando notou algo incrustado no nariz de uma das tartarugas machos. Pensou tratar-se de um parasita, algo que vive na tartaruga, ou dentro dela. Entretanto, a equipe logo descobriu que era, na verdade, um canudo plástico preso em seu nariz e o removeu. De certa forma, a tartaruga tornou-se garota-propaganda a fim de sensibilizar as pessoas e aumentar a conscientização sobre o problema do lixo plástico nos oceanos. Além de incidentes deste tipo é notório o aumento do índice de mortalidade de aves e de animais marinhos encontrados com expressiva quantidade de plástico no estômago. Os plásticos parecem baratos porque todos os custos para o meio ambiente, oceano e animais foram externalizados. Sem mencionar, ainda, o dano à saúde humana através da ingestão dos animais marinhos “plastificados”.
Espera-se, portanto, que o debate sobre os canudinhos plásticos nos leve, realmente, a ações mais mensuráveis. Às vezes, uma atitude positiva visando o meio ambiente pode estimular as pessoas a praticarem outras ações amigáveis, através do comportamento chamado de "viés de ação única". O que realmente importa é viver com menos plástico e mudar comportamentos antigos. Várias cidades em todo o mundo já adotaram restrições ou estão em curso de uma regulamentação agressiva em relação ao uso dos plásticos. O "mantra" da sustentabilidade "reduza, reutilize, recicle" é fortalecido pela palavra “recuse”. Espera-se que as pessoas recusem recipientes de plástico onde quer que sejam oferecidos, seja na cafeteria, na banca de sorvete ou na mercearia.
Todos sabemos que esse tipo de mudança de hábito é difícil, porém, quanto mais praticamos algo, menos esforço será necessário para repeti-lo. Pode parecer que você não vai “salvar o planeta” sozinho, mas pequenos hábitos como esse ajudam a aumentar a conscientização e sua influência pode se espalhar facilmente. Um pequeno gesto pode ter um enorme impacto. Evidentemente, algumas situações e pessoas precisam de canudos: há opções de papel, aço, vidro, bambú...
Para concluir, é bom relembrar que o plástico vem do petróleo e não é biodegradável: ele pode permanecer no meio ambiente por mais de 2000 anos. Assim, aquela bebida que você sorveu em 15 minutos permanecerá no meio ambiente por gerações. Na verdade, é provável que cada canudo plástico que você já usou em sua vida ainda exista no ambiente, em algum lugar; apenas se degrada até ficar microscópico. Então, é por aí que a luta precisa começar!
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