Evento reuniu nomes da América Latina para discutir arquitetura regenerativa, bioclimática e transformação urbana
- Por On.TheList
A arquitetura regenerativa voltou à pauta em Curitiba com um encontro que convidou o setor a ampliar a visão sobre retrofit, clima e responsabilidade territorial. No dia 23 de julho, profissionais da Colômbia e do Brasil se reuniram para discutir como a construção civil pode deixar de ser agente de esgotamento ambiental e passar a atuar na reparação de estruturas, relações e paisagens. Patrocinado por Michelangelo Mármores do Brasil, Minith Design Rochas e Artesian, o evento foi promovido pelo comunicador Adriano Tadeu Barbosa, colunista das publicações Architectural Digest América Latina e TOPVIEW.
O arquiteto e designer colombiano David Del Valle partiu da experiência do Edifício Paz, em Medellín, para compartilhar os desafios e aprendizados da transformação de uma estrutura com mais de 45 anos em um novo marco urbano e ambiental. A decisão de manter e reinterpretar a estrutura original evitou o envio de milhares de toneladas de entulho para aterros e preservou a solidez de um edifício historicamente invisível para a paisagem. A obra atravessou a pandemia do Covid-19 e reposicionou o bairro em que se encontra, devolvendo ao espaço público uma área de jardim antes degradada. “Foi emocionante descobrir a alma daquela estrutura e decidir que ela seria o eixo identitário do projeto”, conta Del Valle. “Não queríamos replicar o passado, mas integrá-lo a uma visão contemporânea. Preservar foi também uma declaração de princípios”.
Samanta Ribeiro, Ana Penso, Doriane Hadas Abage e Samira Barakat (foto Ezequiel Prestes)
No vocabulário contemporâneo da arquitetura, termos como retrofit e regeneração muitas vezes se sobrepõem. Mas, embora complementares, seus escopos são distintos. O retrofit responde ao edifício: atualiza estruturas obsoletas, reduz emissões, prolonga a vida útil e evita a demolição. A arquitetura regenerativa responde ao ecossistema: propõe restaurar relações, recompor paisagens e ativar novos ciclos sociais, ambientais e territoriais. Projetos regenerativos podem, e muitas vezes devem incorporar estratégias de retrofit. No diálogo entre os dois conceitos está o futuro da construção civil. Retrofit é necessário e regenerar é urgente.
A arquiteta Paula Morais, fundadora do Estúdio Convexo Arquitetura – em sociedade com Rogerio Shibata - representa essa abordagem no Brasil. Com formação em arquitetura bioclimática pela Universidad Politécnica de Madrid, ela aplica princípios climáticos desde as primeiras decisões projetuais, tornando-os parte da lógica estrutural dos empreendimentos. Em Guaratuba, litoral do Paraná, o edifício Pé na Areia reativa uma estrutura abandonada, reduzindo em até 30% a energia prevista para a obra e devolvendo vitalidade ao entorno. “Ninguém quer ser vizinho de uma estrutura paralisada. Quando retomamos esse projeto, sabíamos que não estávamos apenas fazendo um edifício, mas também devolvendo dignidade ao território”, afirma.
Nicolau Maeder Romanó Malschitzky e Priscila Fleischfresser (Foto: Ezequiel Prestes)
Segundo a Prefeitura de Guaratuba, os terrenos vizinhos ao projeto já valorizaram cerca de 10% desde o anúncio da retomada. Embora ainda não haja incentivos fiscais formalizados para esse tipo de iniciativa, o poder público reconhece o potencial regenerativo das obras que requalificam estruturas estagnadas. “O retrofit vai da pequena à grande escala. Tem espaço para todos: do design à construção civil”, afirma Paula, que também assina projetos regenerativos em Foz do Iguaçu e Curitiba.
A designer Ana Penso, por sua vez, foi oficialmente apresentada na ocasião como diretora criativa da Artesian, indústria completa, a serviço do design autoral, que atua com madeira, metais, estofaria e pintura. O evento também marcou o lançamento da nova coleção da marca paranaense, com três peças desenvolvidas em colaboração com a Minith e a Michelangelo. Os assentos em mármore reutilizado são fruto de uma parceria que une diferentes pontos da cadeia produtiva para propor novos usos e circuitos de valor para a pedra natural. A Minith, empresa derivada da Granisul, reaproveita resíduos da marmoraria e transforma descartes em matéria-prima para mobiliário e design. “Estamos trazendo uma nova visão sobre materiais tradicionalmente associados ao luxo. Queremos que essas matérias-primas entrem no cotidiano de forma mais acessível e inteligente”, explica Ana.
O evento também celebrou o lançamento da coleção Michelangelo Natura, resultado de mais de um ano de pesquisas. Desenvolvida a partir de blocos de mármore Branco Michelangelo que antes não eram aproveitados como chapas, a nova linha propõe uma ressignificação da estética do mármore, revelando seu potencial em novos formatos e texturas. Com proposta versátil e foco na durabilidade, os revestimentos valorizam a rocha em seu estado mais natural, conectando funcionalidade e sensibilidade. A coleção leva a assinatura do paisagista Alex Hanazaki, que reforça a integração entre matéria-prima, natureza e design contemporâneo. ”Michelangelo Natura nasceu do nosso compromisso com o uso consciente dos recursos. Acreditamos que o design pode ser uma ponte entre a sustentabilidade e a regeneração. Essa coleção é um passo nessa direção”, afirma Priscila Fleischfresser, CEO da Michelangelo.
O casal Adriana e Rafael Gugelmin com a filha Eduarda (Foto: Ezequiel Prestes)